Diário do Mercado na 3ª feira, 04.10.2016
Internamente, foco no avanço da PEC.
No exterior, dólar ganhou força com tom hawkish de dirigentes do Fed e Brexit.
Hamilton Moreira Alves, CNPI-T
Rafael Freda Reis, CNPI-P
Em uma terça-feira de agenda econômica esvaziada, os agentes fixaram-se nos desdobramentos das questões atuais que envolvem, internamente, o avanço da política fiscal e, externamente, comentários de dirigentes do Fed, o Brexit, e a questão do Deutsche Bank.
Assim, domesticamente, esteve no radar dos investidores tão somente os avanços da PEC 241, com o presidente Michel Temer articulando apoio político para garantir sua provável implementação.
No cenário internacional, o dólar ganhou força hoje, catalisado pela fala considerada hawkish (restricionista/agressiva) do chairman da distrital do Fed de Richmond, Jeffrey Lacker, afirmando existir “argumento forte” para elevação dos Fed Funds, dado a atual evolução econômica norte-americana, bem como, apoiado em declarações da premiê inglesa dadas no domingo passado, no sentido de conduzir a desvinculação do Reino Unido da União Europeia até março do ano que vem.
A moeda norte-americana foi o principal motivador da volatilidade no dia, que contou ainda, em menor grau, com ligeiro viés de alívio em relação às preocupações acerca da solvência do Deutsche Bank.
Ibovespa
Por aqui, o Ibovespa, na ausência relevantes direcionadores domésticos e opostamente à sessão anterior, vinculou-se aos movimentos externos, colando sua trajetória no comportamento do índice S&P500 de Nova York.
O índice terminou a sessão regular aos 59.339 pts, em baixa de 0,21%, passando a acumular +1,67% na semana, +36,89% no ano e +26,17% em 12 meses. O preliminar giro financeiro da Bovespa foi de R$ 7,73 bilhões, com o mercado à vista somando R$ 7,52 bilhões.
Capitais Externos na Bolsa
No último dado disponível (6ª feira, dia 30.09), houve saída líquida de R$ 85,6 milhões de capital estrangeiro da bolsa, encerrando as leituras de setembro com uma significativa evasão de R$ 1,97 bilhão. No entanto, o saldo de em 2016 permanece bastante positivo, com ingresso líquido de R$ 13,04 bilhões.
Agenda Econômica
Na agenda econômica (pg.3), internamente, a produção industrial de agosto recuou 3,8% na margem mensal. Apesar do número ter vindo inferior às estimativas de -3,0%, o consenso entre os agentes é de que ele não refletiu devidamente o panorama de recuperação econômica atualmente vivido, já que o dado carrega consigo certa distorção, pois aproximadamente dois terços da queda são atribuídos ao setor automobilístico, que foi pontualmente prejudicado pela inatividade de uma fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP).
Corroborando esta análise, o dado no comparativo ano contra ano, em -5,2%, ainda que também abaixo das projeções, em -4,7%, mostrou avanço ante a variação anterior de julho/ 2016 contra julho/2015, em -6,4%.
Em nossa visão, a produção industrial já mostra sinais de reação ao ciclo econômico e deve mostrar números melhores já nos meses vindouros.
Ainda ocorreu uma surpresa favorável: a inflação ao consumidor em São Paulo medida pelo IPC-Fipe, tornando ainda mais crível a tendência de arrefecimento dos preços dos alimentos visto no IPCA-15 de setembro, não apenas recuou ante a leitura de agosto, em +0,11%, como mostrou uma deflação de 0,14%, abaixo das projeções do mercado, em -0,02%.
As apostas do mercado, tendo como argumento a cada vez mais tangível descompressão dos preços no varejo, dão como certo o início do ciclo de afrouxo monetário já na próxima decisão do Copom no dia 19 deste mês, podendo, a depender do resultado do IPCA (inflação ao consumidor) de setembro, de divulgação prevista para esta sexta-feira (07), calibrarem suas projeções quanto à magnitude do primeiro corte: ou 25 ou 50 pontos-base.
Neste momento, entendemos que o comitê deve ao mesmo tempo referendar uma visão auspiciosa do mercado, mas, também, manter uma postura conservadora, com um corte mais parcimonioso de 25 pts-base.
Juros
No mercado de juros, a curva da estrutura a termo da taxa de juros apresentou avanço ao longo de toda a sua extensão, acompanhando o dólar, que ganhou força nesta terça-feira. Nem mesmo as notícias positivas como a menor inflação em São Paulo ou os desdobramentos no front fiscal seguraram o movimento.
Câmbio e Juros Futuros
No mercado de câmbio (interbancário), o dólar operou firme alta, não apenas perante o Real, mas, contra praticamente todas as moedas nesta sessão, reagindo ao discurso de Lacker, do Fed de Richmond e fechou cotado a R$ 3,2550 (+1,62%), acumulando agora variações de +0,12% na semana, de -17,82% no ano e de -17,45% em 12 meses.
O CDS (Credit Default Swap) brasileiro de 5 anos subiu a 276 pts, ante 268 pts de ontem.
Confira no anexo a íntegra do relatório de análise do comportamento do mercado na 3ª feira, 04.10.2016, elaborado por Hamilton Moreira Alves, CNPI-T Rafael Freda Reis, CNPI-P, analistas de investimentos do BB Investimentos